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MANDE UM SINAL: QUE A COR DA PELE NÃO SEJA MAIS UMA SENTENÇA DE MORTE

*Ísis Dantas
Foto: Freepik


A cor da sua pele já fez de você um alvo? Se você é branco a resposta certamente é não, mas caso você seja negro ou pardo a situação é bem diferente, já que a carne mais barata do mercado é a carne negra  (A Carne/ Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti). 

Após o Novembro Negro, primeiro em que o Dia da Consciência Negra (20/11) foi considerado feriado nacional, iniciamos o mês de dezembro com imagens fortes e assustadoras que revelam o que acontece nas periferias brasileiras há muito tempo: o extermínio da  população negra.

O país ficou em choque, quando vieram a público casos de violência policial pelo país. Imagens de câmeras de segurança divulgadas nesta segunda-feira (2) mostram a execução do jovem negro Gabriel Renan da Silva Soares.  Ele foi alvejado com inúmeros tiros pelas costas. Os disparos foram efetuados pelo policial militar Vinicius de Lima Britto, em 3 de novembro, em um mercado da zona sul de São Paulo.

Gabriel, de apenas 26 anos,  foi executado sem piedade ao tentar sair correndo e acabar escorregando após furtar pacotes de sabão em pó no mercado. Observando as imagens dá para perceber que não houve diálogo, ameaça, nada. O que aconteceu foi uma execução sumária, sem chance de defesa. 

Na mesma semana, em Vila Clara, também em São Paulo, um policial militar foi flagrado jogando um homem negro do alto de uma ponte como se fosse um pacote de lixo. Não podemos esquecer do assassinato de um motociclista, em Pernambuco, após um policial se recusar a pagar R$ 7 por uma corrida de aplicativo. 

Todos esses crimes expõem a dimensão do problema e a urgente necessidade de mudanças profundas no sistema de segurança pública do país. A militarização das polícias, a falta de responsabilização dos agentes e o racismo estrutural são alguns dos fatores que contribuem para essa cruel realidade, mas não apenas isso. 

Os últimos acontecimentos levantam a reflexão sobre quais são os valores presentes em nossa sociedade, pois chegamos ao ponto em que uma corrida de aplicativo pode custar uma vida, em que a barbárie é aceita, tolerada e muitas vezes incentivada, revelando a profundidade do pacto da branquitude (Cida Bento, 2022) e a naturalização da violência contra pessoas negras.

Infelizmente, não há excessos ou desvios, o que existe, de forma escancarada, é a lógica da repressão, do controle, e tudo isso é para exterminar pessoas negras. Um processo cruel que combina racismo estrutural, desumanização, indiferença social e que ceifa centenas de vidas diariamente, especialmente dos jovens negros.

No mês passado, um estudo publicado pela Rede de Observatórios da Segurança revelou que 4.025 pessoas foram mortas por policiais no Brasil em 2023. Em 3.169 desses casos foram disponibilizados os dados de raça e cor: 2.782 das vítimas eram pessoas negras, o que representa 87,8%.

Os dados do boletim Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão, que está na quinta edição, foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) em nove estados. Em todos eles, o padrão é de uma proporção muito alta de pessoas negras mortas por intervenção do Estado: Amazonas (92,6%), Bahia (94,6%), Ceará (88,7%), Maranhão (80%), Pará (91,7%), Pernambuco (95,7%), Piauí (74,1%), Rio de Janeiro (86,9%) e São Paulo (66,3%).

Os números são alarmantes e evidenciam que a violência e a letalidade policial contra a população negra no Brasil são feridas abertas, fruto de um passado marcado pela escravidão e pelo racismo institucionalizado. 

Urge mudar esse paradigma, pois não é mais tolerável aceitar que o genocídio da população negra avance a olhos nus. Chega de violência, de desrespeito, de falta de oportunidades. Chega de crueldade, de usurpação de direitos.

Para mudar a realidade que massacra cotidianamente meninos, meninas, mulheres e homens negros, o primeiro e fundamental passo é que entendamos que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista e lutar para construir um país no qual a cor da pele não seja uma sentença de morte, mas um motivo de orgulho. Para isso, precisamos desconstruir o pacto da branquitude e reconhecer os privilégios que ele proporciona.

Precisamos nos unir para lutar contra o racismo diariamente, pois essa luta é a luta pela possibilidade de um futuro justo e igualitário para todos, mas ela não  pode ficar apenas no discurso, precisa de ação. Essa luta tem que acontecer todos os dias, em todos os espaços e das mais variadas formas. 

Apenas juntos - gestores, representantes eleitos, sociedade civil organizada e cidadãos- iremos conseguir quebrar correntes e consolidar uma sociedade que privilegie a vida, a liberdade e as singularidades de cada ser! Uma sociedade na qual jovens, homens, mulheres, pessoas com baixa escolaridade, pobres e negros não temam por suas vidas. Não há mais espaço para a violência e o extermínio perpetrados contra nossa gente! Basta!

Fica o convite para que a “branquitude enxergue seus privilégios” e a partir da tomada de consciência de suas “regalias”, que as pessoas brancas possam se engajar em ações que contribuam efetivamente para a construção de uma sociedade realmente justa e igualitária. 


*Ísis Dantas é jornalista, fotógrafa, criadora do Projeto Marias da Penha e colunista do Véi Podcast

*O termo "branquitude" se refere a um conceito que descreve a condição de privilégio associada à identidade branca, especialmente em contextos sociais e históricos em que as pessoas brancas detêm maior poder, acesso a recursos e privilégios em comparação com grupos racializados, como negros e indígenas. O uso dessa palavra busca questionar as estruturas de poder e a forma como a sociedade valoriza determinadas identidades enquanto marginaliza outras, ressaltando a necessidade de refletir sobre a desigualdade racial presente em diversas esferas, como o mercado de trabalho, a educação, a segurança pública e a política.

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